Foto de Silvestre Raposo
sexta-feira, dezembro 04, 2009
aos Virgem Suta
Foto de Silvestre Raposo
segunda-feira, novembro 30, 2009
ir ao campo, ou estar no campo
sábado, novembro 21, 2009
sábado, outubro 24, 2009
Viver...estar vivo...


terça-feira, outubro 20, 2009
na senda das fotos de luz
Gosto mais desta, mas sinto que de todas as fotos que fiz a Luz, estas são as melhores. Não preparei nada, foi apenas aproveitar as imagens daquele momento.
terça-feira, outubro 13, 2009
sexta-feira, setembro 18, 2009
Entrevista ao jornal A Planicie-Moura

As respostas foram dadas directamente para o gravador da Jornalista, dai o tipo de linguagem.
Foto: Pintura de Silvestre Raposo
Vamos falar de cultura!
Entrevista a Silvestre Raposo
Formado em artes plásticas, professor de artes gráficas, é autor trabalhos de poesia, contos, pintura, fotografia, escultura e design.
“A arte não é para entender, é para apreciar. O gosto não é uma questão de conhecimento, é uma questão de sentimento.”
P: O que é a cultura?
SR: A cultura é uma actividade muito mais restrita do que aquilo que querem fazer crer. Globalizando tudo e incluindo em actos culturais coisas que nada tem a ver com a cultura, querem dizer que cultura é tudo, criando assim uma maneira de se banalizar a cultura para que deixe de ser um propósito mais erudito, de consciência de pensamento, até filosófico, de um povo.
A cultura passa por muita coisa, por muitas áreas das artes, desde a literatura, o bailado, a dança, a música clássica, as artes plásticas…, tentar misturar como acto cultural, uma música pimba é uma ofensa à cultura, e nada tem de cultural, pode ter a ver com outras coisas… Há necessidade de ser repensada, de repensar estratégias culturais, sob pena de perdermos essas raízes, e no fundo, numa sociedade civilizada a única coisa que subsiste como memória de um povo é a cultura desse povo.
P: Para que serve a cultura?
SR: Serve para que as pessoas passem a ser mais tolerantes, tenham mais conhecimentos, sejam melhor formadas intelectualmente, e isso de uma forma geral traz outro tipo de linguagem e comportamento, no fundo para levar a um melhor comportamento de uma sociedade que se pretende que seja civilizada. Quanto mais cultura tiver um povo, melhor será esse povo de um ponto de vista geral.
P: Como vê a aposta da Câmara de Moura na recuperação do património?
SR: De facto a cidade de Moura tem algum património que pode ser, digamos recuperado, no sentido do adjudicar, de colocar nele equipamentos culturais. Moura tem edifícios mas não tem equipamentos culturais, nem propostas de cultura que possa oferecer às pessoas.
A aposta de recuperar património parece-me correcta e certa, porque entre criar equipamentos novos com uma outra linha e noutro espaço, sob pena dos edifícios velhos se degradarem não faz muito sentido; penso que será mais correcto aquilo que se está a fazer ao recuperar os edifícios e permitir que neles sejam feitas actividades culturais ou espaços de cultura. O problema é que primeiro não havia edifícios, por isso é que não havia cultura, agora há edifícios mas continua a não haver cultura.
P: Porque é que considera que não há cultura?
SR: Falta alguma programação cultural.
P: Mas essa programação deveria partir da autarquia, da sociedade civil, das associações?
SR: O papel das autarquias não é bem, realizar coisas, é permitir que; quer associações, quer a sociedade civil, quer outras entidades, ponham em prática projectos seus e possam desenvolver as suas actividades. Penso que a Câmara tem um papel importante em programar alguma coisa que seja da sua responsabilidade, e penso que a Câmara podia programar coisas de interacção com as escolas. Acho que a cultura tem de ser pensada da vertente de começar pelas escolas, pelos mais novos, porque se não for em criança não é em adulto que vão ficara gostar de coisas que nunca lhe foram mostradas durante a infância. Penso que essa abordagem e essa preocupação passa por ser o mais cedo possível.
A programação cultural em Moura neste momento não existe, não vejo o que tem sido feito, porque fazer um espectáculo qualquer para divertimento das pessoas não se pode considerar que seja um evento de cariz cultural. Passava por outras coisas que se podiam fazer, no sentido da música, do teatro, da dança, das artes plásticas, da literatura – e não é lançando um livro de vez em quando que se promove a literatura -, é fazendo um concurso literário; nem é fazendo uma feira do livro que pode ficar aquém, quer na oferta quer na própria procura, e depois os eventos anexos não tem assistência, porque há uma falta de motivação cultural nas pessoas do concelho de Moura.
Se houver um evento de raiz cultural mais erudita não vai ninguém, e se houver uma “pimbalhada” cai lá toda a gente.
P: Mas essa falta de assistência prende-se com o quê?
SR: Há várias coisas. Não sei se a divulgação é bem feita ou não, e se chega ou não às pessoas, penso que teria havido em certa altura, não sei de ainda se mantêm, um esforço nesse sentido. O afastamento tem a ver com a falta de ligação afectiva às coisas de cultura, e ligações mais próximas a outras questões. Parece-me que se as pessoas não vão às coisas é porque não tem interesse, ninguém o fomentou, e as pessoas por si só, não ganham esse interesse e não participam. Há coisas que têm de ser feitas de forma ponderada, com algum cuidado e com tempo, leva anos a conseguir que as pessoas se habituem a ir ver um concerto de piano, uma orquestra, ou uma peça de teatro que não seja revisteiro, que as pessoas gostam porque vão lá e riem, porque se for uma peça mais séria e de intervenção cultural as pessoas não vão, como não vão às exposições.
Há um certo afastamento por falta de formação e informação das pessoas, do que rodeia a própria arte. Se forem pinturas muito figurativas, retrato, as pessoas gostam, se for de uma linha não figurativa ou um pouco mais abstracta, de vanguardas e contemporâneas, as pessoas não vão, e não vão porque dizem que não entendem. A arte não é para entender, é para apreciar. O gosto não é uma questão de conhecimento, é uma questão de sentimento. E as pessoas gostam ou não por aquilo que as atrai, e normalmente o que as atrai não são coisas de raiz cultural, não foi essa a sua criação, ou a escola que lhes foi dada.
P: Considera suficiente a oferta cultural de Moura?
SR: Eu nem sequer sei se há oferta cultural em Moura neste momento. Não queria ir muito por aí, mas quando estava à frente da Galeria Municipal eram feitas onze, doze, exposições por ano, e durante os cinco anos que estive à frente foram feitas à volta de 52 exposições, nas quais participaram cerca de 270 artistas, com quinhentos e oitenta e muitos trabalhos, e um número de visitantes entre os 18 a 25 mil, dependendo do modo como era feita a contagem. Penso que ao terem encerrado a Galeria Municipal mataram um trabalho que eu tinha desenvolvido ao longo de cinco anos, e que será muito difícil tornar a fazer renascer. A galeria tinha determinado tipo de programa, de trabalho, e neste momento com o seu encerramento perdeu-se, apenas restando uma coisa que foi no fundo um legado meu, porque fui eu que propus à Câmara os Prémios Salúquia às Artes. Eram anuais, passaram a ser de dois em dois anos, não sei se tem mais gente, se tem menos do que tinham, mas apenas com uma esporádica exposição por ano, ou duas, como está a acontecer actualmente, com um protocolo com uma ou outra instituição, para além de ser um prejuízo para o que foi desenvolvido anteriormente, é um trabalho que não projecta de forma alguma Moura, como um concelho que estava virado para a cultura e para as artes como era antes do encerramento da galeria.
P: E para além disso?
SR: Para além disso, penso que nas outras áreas alguns concertos que se faziam no S. João Baptista, quer de música clássica, quer de piano, orquestra, guitarra clássica e algumas coisas assim, mais de raiz cultural, e alguns espectáculos que se faziam no castelo, também mais nessa vertente..., parece-me que a oferta cultura em Moura neste momento limita-se aos equipamentos que tem sido recuperados ou construídos, para uma oferta cultural que possa eventualmente existir posteriormente. Quanto a esses equipamentos pretende passar-se a imagem de que foram coisas criadas agora, neste último mandato, e isso não corresponde de forma alguma à verdade. O Museu do Alberto Gordillo não é uma proposta deste último mandato, já vem desde 2002 altura em que fiz a proposta e que estava a fazer algum acompanhamento para ser construído, embora agora se tenha posto a andar o projecto. Também quanto ao Edifício dos Quartéis se pretende porventura fazer crer que é uma coisa de agora, mas o projecto de recuperação do espaço envolvente existe desde 1998, feito pelo arquitecto José Lamas, que já faleceu, e que em 2002, dei um parecer/sugestão de utilização futura para aquele espaço. Acontece que até agora já passaram sete anos, não se tente fazer crer que é um projecto iniciado agora, e embora não saiba bem o que se vai lá fazer, parece-me que de um modo geral vai de encontro ao que eu tinha sugerido para aquele equipamento.
Tinha proposto também um Parque das Artes no Castelo, que ficou completamente adormecido, tinha proposto um Centro de Arte Contemporânea no lagar da Vista Alegre, junto ao antigo quartel dos bombeiros, onde vai ser instalado o Museu Gordillo. Portanto havia um circuito urbano proposto para a área da cultura, que passava por aquilo que afinal foi feito no Páteo dos Rollins.., que passaria pelo parque das artes no Castelo, como uma estrutura que permitia descer-se a pé até à Vista Alegre, e daí passar pelo centro de arte contemporânea e sair pelo museu do Gordillo - um circuito que estava pensado já em 2003/2004, e não sei se está abandonado.
Penso que foram recuperados com êxito alguns espaços culturais, mas até os porem em actividade, penso que se deveria ter tido o cuidado de ir realizando os mesmos eventos num espaço alternativo, com a mesma cadência e sequência que vinham sendo nessa altura. Deixar de fazer, interromper durante anos o exercício de actividades na área cultural para renovar ou tornar a aparecer com elas de uma outra forma, numa outra vertente, uns anos mais tarde, noutros locais, mata todo o trabalho e impõe um esforço muito maior para dar início a novo trabalho que possa ser feito.
P: Nos municípios mais pequenos não se vê entidades públicas e privadas a unirem-se para promover uma oferta coerente e organizada, porquê?
SR: Isso de facto poderia e deveria haver a nível de várias entidades, desde os municípios, a museus, e deveria haver equipamentos que permitissem receber exposições que pudessem ser itinerantes, no caso das artes plásticas, e que pudessem percorrer alguns espaços do país para se mostrarem, o mesmo digo para peças de teatro que estão centralizadas em Lisboa e que não saem dali. Até algum trabalho que se faz em Sesimbra – Espaço das Aguncheiras- Azóia, é um trabalho à custa dos próprias actores. Os municípios deveriam, de facto, criar uma rede de municípios que pudesse trazer e permutar ofertas culturais, até mesmo em termos de música e dos nossos grupos corais, porque termos um grupo coral alentejano a cantar alentejano sempre no Alentejo… desculpem lá. Vamos exportar aquilo que temos, permitir que vá até onde não há, e vamos trazer coisas de outros países e povos para cá, e o mesmo digo do teatro - fazer um festival de teatro ao qual pudessem trazer grupos de várias tendências e vários pontos, como digo em relação à música ou às artes plásticas. Se não mostrarmos às pessoas as várias tendências que há, e as várias vertentes culturais, nunca chegam a conhecê-las.
P: Devem ser patrocinado ou auto-financiarem-se os eventos culturais?
SR: Isso tem duas vertentes. Se formos ver uma exposição ao CCB se calhar cobram e as pessoas pagam bilhete para ir ver a exposição, se fizermos isso aqui em Moura, Serpa ou Beja arriscamo-nos a ter uma exposição deserta, que ninguém visita porque tem de pagar. A cultura neste momento, até que possa ter um enraizamento, que as pessoas reconheçam que para ir ver têm de pagar uma entrada, como é nos museus e galerias, deve ser financiada e não deve ser cobrado nada. Fazer um evento qualquer, no qual se gasta dinheiro, se investe esforço e trabalho, e não ir lá ninguém… não é esse o propósito, o propósito é divulgar. Agora, se pagam para ir ver um concerto, às vezes de qualidade duvidosa, também podiam pagar para ir ver um concerto de qualidade.
P: O actual governo tem sido muito criticado pelo desinvestimento na cultura e pela falta de uma política cultural. Diz-se mesmo que desde que Manuel Maria Carrilho foi Ministro da Cultura, temos vindo a piorar…
SR: Acho que há uma certa verdade na afirmação, o último ministro que tinha algum discernimento do que pretendia em termos de cultura terá sido, de facto, o Manual Maria Carrilho. Depois, não se vê sequer uma programação cultural, não se vê sequer um pensamento organizado sobre uma linha de cultura neste país, e é de facto um desastre por falta de implementações. E o que se passa com alguns municípios passa-se igualmente em termos de governo. Até em relação às delegações regionais, não sei qual é a estrutura, não a conheço, mas penso que uma delegação regional do Ministério da Cultura têm de fazer um trabalho muito maior do que responder a meia dúzia de ofícios, de ofertas e de pedidos de associações. Penso que devia ter uma atitude mais dinâmica, mais de procura, quer nas associações, quer nos municípios, quer nos grupos de trabalho, ao invés de estar à espera que as coisas lhe cheguem. Isto não pode soar a crítica porque não sei qual é o trabalho da delegação cultural, mas não é a financiar um grupo porque apresenta um projecto que agrada e não financiar outro porque apresenta um projecto que não agrada, que servimos a cultura, até porque em termos de apreciação, esta não pode assentar num juizo de gosto, o gosto não é conhecimento é sentimento e não há parâmetros para julgar o que é, e o que não é de apoiar, e devia haver. O governo ou repensa rapidamente a atitude a tomar face à cultura ou perdemo-nos em termos culturais. Já vamos atrás em tanta coisa na Europa, na cultura, parece-me que nos afundamos se não repensarmos urgentemente todo o trabalho de cultura que possa ser desenvolvido.
Foto: Pintura de Silvestre Raposo
Vamos falar de cultura!
Entrevista a Silvestre Raposo
Formado em artes plásticas, professor de artes gráficas, é autor trabalhos de poesia, contos, pintura, fotografia, escultura e design.
“A arte não é para entender, é para apreciar. O gosto não é uma questão de conhecimento, é uma questão de sentimento.”
P: O que é a cultura?
SR: A cultura é uma actividade muito mais restrita do que aquilo que querem fazer crer. Globalizando tudo e incluindo em actos culturais coisas que nada tem a ver com a cultura, querem dizer que cultura é tudo, criando assim uma maneira de se banalizar a cultura para que deixe de ser um propósito mais erudito, de consciência de pensamento, até filosófico, de um povo.
A cultura passa por muita coisa, por muitas áreas das artes, desde a literatura, o bailado, a dança, a música clássica, as artes plásticas…, tentar misturar como acto cultural, uma música pimba é uma ofensa à cultura, e nada tem de cultural, pode ter a ver com outras coisas… Há necessidade de ser repensada, de repensar estratégias culturais, sob pena de perdermos essas raízes, e no fundo, numa sociedade civilizada a única coisa que subsiste como memória de um povo é a cultura desse povo.
P: Para que serve a cultura?
SR: Serve para que as pessoas passem a ser mais tolerantes, tenham mais conhecimentos, sejam melhor formadas intelectualmente, e isso de uma forma geral traz outro tipo de linguagem e comportamento, no fundo para levar a um melhor comportamento de uma sociedade que se pretende que seja civilizada. Quanto mais cultura tiver um povo, melhor será esse povo de um ponto de vista geral.
P: Como vê a aposta da Câmara de Moura na recuperação do património?
SR: De facto a cidade de Moura tem algum património que pode ser, digamos recuperado, no sentido do adjudicar, de colocar nele equipamentos culturais. Moura tem edifícios mas não tem equipamentos culturais, nem propostas de cultura que possa oferecer às pessoas.
A aposta de recuperar património parece-me correcta e certa, porque entre criar equipamentos novos com uma outra linha e noutro espaço, sob pena dos edifícios velhos se degradarem não faz muito sentido; penso que será mais correcto aquilo que se está a fazer ao recuperar os edifícios e permitir que neles sejam feitas actividades culturais ou espaços de cultura. O problema é que primeiro não havia edifícios, por isso é que não havia cultura, agora há edifícios mas continua a não haver cultura.
P: Porque é que considera que não há cultura?
SR: Falta alguma programação cultural.
P: Mas essa programação deveria partir da autarquia, da sociedade civil, das associações?
SR: O papel das autarquias não é bem, realizar coisas, é permitir que; quer associações, quer a sociedade civil, quer outras entidades, ponham em prática projectos seus e possam desenvolver as suas actividades. Penso que a Câmara tem um papel importante em programar alguma coisa que seja da sua responsabilidade, e penso que a Câmara podia programar coisas de interacção com as escolas. Acho que a cultura tem de ser pensada da vertente de começar pelas escolas, pelos mais novos, porque se não for em criança não é em adulto que vão ficara gostar de coisas que nunca lhe foram mostradas durante a infância. Penso que essa abordagem e essa preocupação passa por ser o mais cedo possível.
A programação cultural em Moura neste momento não existe, não vejo o que tem sido feito, porque fazer um espectáculo qualquer para divertimento das pessoas não se pode considerar que seja um evento de cariz cultural. Passava por outras coisas que se podiam fazer, no sentido da música, do teatro, da dança, das artes plásticas, da literatura – e não é lançando um livro de vez em quando que se promove a literatura -, é fazendo um concurso literário; nem é fazendo uma feira do livro que pode ficar aquém, quer na oferta quer na própria procura, e depois os eventos anexos não tem assistência, porque há uma falta de motivação cultural nas pessoas do concelho de Moura.
Se houver um evento de raiz cultural mais erudita não vai ninguém, e se houver uma “pimbalhada” cai lá toda a gente.
P: Mas essa falta de assistência prende-se com o quê?
SR: Há várias coisas. Não sei se a divulgação é bem feita ou não, e se chega ou não às pessoas, penso que teria havido em certa altura, não sei de ainda se mantêm, um esforço nesse sentido. O afastamento tem a ver com a falta de ligação afectiva às coisas de cultura, e ligações mais próximas a outras questões. Parece-me que se as pessoas não vão às coisas é porque não tem interesse, ninguém o fomentou, e as pessoas por si só, não ganham esse interesse e não participam. Há coisas que têm de ser feitas de forma ponderada, com algum cuidado e com tempo, leva anos a conseguir que as pessoas se habituem a ir ver um concerto de piano, uma orquestra, ou uma peça de teatro que não seja revisteiro, que as pessoas gostam porque vão lá e riem, porque se for uma peça mais séria e de intervenção cultural as pessoas não vão, como não vão às exposições.
Há um certo afastamento por falta de formação e informação das pessoas, do que rodeia a própria arte. Se forem pinturas muito figurativas, retrato, as pessoas gostam, se for de uma linha não figurativa ou um pouco mais abstracta, de vanguardas e contemporâneas, as pessoas não vão, e não vão porque dizem que não entendem. A arte não é para entender, é para apreciar. O gosto não é uma questão de conhecimento, é uma questão de sentimento. E as pessoas gostam ou não por aquilo que as atrai, e normalmente o que as atrai não são coisas de raiz cultural, não foi essa a sua criação, ou a escola que lhes foi dada.
P: Considera suficiente a oferta cultural de Moura?
SR: Eu nem sequer sei se há oferta cultural em Moura neste momento. Não queria ir muito por aí, mas quando estava à frente da Galeria Municipal eram feitas onze, doze, exposições por ano, e durante os cinco anos que estive à frente foram feitas à volta de 52 exposições, nas quais participaram cerca de 270 artistas, com quinhentos e oitenta e muitos trabalhos, e um número de visitantes entre os 18 a 25 mil, dependendo do modo como era feita a contagem. Penso que ao terem encerrado a Galeria Municipal mataram um trabalho que eu tinha desenvolvido ao longo de cinco anos, e que será muito difícil tornar a fazer renascer. A galeria tinha determinado tipo de programa, de trabalho, e neste momento com o seu encerramento perdeu-se, apenas restando uma coisa que foi no fundo um legado meu, porque fui eu que propus à Câmara os Prémios Salúquia às Artes. Eram anuais, passaram a ser de dois em dois anos, não sei se tem mais gente, se tem menos do que tinham, mas apenas com uma esporádica exposição por ano, ou duas, como está a acontecer actualmente, com um protocolo com uma ou outra instituição, para além de ser um prejuízo para o que foi desenvolvido anteriormente, é um trabalho que não projecta de forma alguma Moura, como um concelho que estava virado para a cultura e para as artes como era antes do encerramento da galeria.
P: E para além disso?
SR: Para além disso, penso que nas outras áreas alguns concertos que se faziam no S. João Baptista, quer de música clássica, quer de piano, orquestra, guitarra clássica e algumas coisas assim, mais de raiz cultural, e alguns espectáculos que se faziam no castelo, também mais nessa vertente..., parece-me que a oferta cultura em Moura neste momento limita-se aos equipamentos que tem sido recuperados ou construídos, para uma oferta cultural que possa eventualmente existir posteriormente. Quanto a esses equipamentos pretende passar-se a imagem de que foram coisas criadas agora, neste último mandato, e isso não corresponde de forma alguma à verdade. O Museu do Alberto Gordillo não é uma proposta deste último mandato, já vem desde 2002 altura em que fiz a proposta e que estava a fazer algum acompanhamento para ser construído, embora agora se tenha posto a andar o projecto. Também quanto ao Edifício dos Quartéis se pretende porventura fazer crer que é uma coisa de agora, mas o projecto de recuperação do espaço envolvente existe desde 1998, feito pelo arquitecto José Lamas, que já faleceu, e que em 2002, dei um parecer/sugestão de utilização futura para aquele espaço. Acontece que até agora já passaram sete anos, não se tente fazer crer que é um projecto iniciado agora, e embora não saiba bem o que se vai lá fazer, parece-me que de um modo geral vai de encontro ao que eu tinha sugerido para aquele equipamento.
Tinha proposto também um Parque das Artes no Castelo, que ficou completamente adormecido, tinha proposto um Centro de Arte Contemporânea no lagar da Vista Alegre, junto ao antigo quartel dos bombeiros, onde vai ser instalado o Museu Gordillo. Portanto havia um circuito urbano proposto para a área da cultura, que passava por aquilo que afinal foi feito no Páteo dos Rollins.., que passaria pelo parque das artes no Castelo, como uma estrutura que permitia descer-se a pé até à Vista Alegre, e daí passar pelo centro de arte contemporânea e sair pelo museu do Gordillo - um circuito que estava pensado já em 2003/2004, e não sei se está abandonado.
Penso que foram recuperados com êxito alguns espaços culturais, mas até os porem em actividade, penso que se deveria ter tido o cuidado de ir realizando os mesmos eventos num espaço alternativo, com a mesma cadência e sequência que vinham sendo nessa altura. Deixar de fazer, interromper durante anos o exercício de actividades na área cultural para renovar ou tornar a aparecer com elas de uma outra forma, numa outra vertente, uns anos mais tarde, noutros locais, mata todo o trabalho e impõe um esforço muito maior para dar início a novo trabalho que possa ser feito.
P: Nos municípios mais pequenos não se vê entidades públicas e privadas a unirem-se para promover uma oferta coerente e organizada, porquê?
SR: Isso de facto poderia e deveria haver a nível de várias entidades, desde os municípios, a museus, e deveria haver equipamentos que permitissem receber exposições que pudessem ser itinerantes, no caso das artes plásticas, e que pudessem percorrer alguns espaços do país para se mostrarem, o mesmo digo para peças de teatro que estão centralizadas em Lisboa e que não saem dali. Até algum trabalho que se faz em Sesimbra – Espaço das Aguncheiras- Azóia, é um trabalho à custa dos próprias actores. Os municípios deveriam, de facto, criar uma rede de municípios que pudesse trazer e permutar ofertas culturais, até mesmo em termos de música e dos nossos grupos corais, porque termos um grupo coral alentejano a cantar alentejano sempre no Alentejo… desculpem lá. Vamos exportar aquilo que temos, permitir que vá até onde não há, e vamos trazer coisas de outros países e povos para cá, e o mesmo digo do teatro - fazer um festival de teatro ao qual pudessem trazer grupos de várias tendências e vários pontos, como digo em relação à música ou às artes plásticas. Se não mostrarmos às pessoas as várias tendências que há, e as várias vertentes culturais, nunca chegam a conhecê-las.
P: Devem ser patrocinado ou auto-financiarem-se os eventos culturais?
SR: Isso tem duas vertentes. Se formos ver uma exposição ao CCB se calhar cobram e as pessoas pagam bilhete para ir ver a exposição, se fizermos isso aqui em Moura, Serpa ou Beja arriscamo-nos a ter uma exposição deserta, que ninguém visita porque tem de pagar. A cultura neste momento, até que possa ter um enraizamento, que as pessoas reconheçam que para ir ver têm de pagar uma entrada, como é nos museus e galerias, deve ser financiada e não deve ser cobrado nada. Fazer um evento qualquer, no qual se gasta dinheiro, se investe esforço e trabalho, e não ir lá ninguém… não é esse o propósito, o propósito é divulgar. Agora, se pagam para ir ver um concerto, às vezes de qualidade duvidosa, também podiam pagar para ir ver um concerto de qualidade.
P: O actual governo tem sido muito criticado pelo desinvestimento na cultura e pela falta de uma política cultural. Diz-se mesmo que desde que Manuel Maria Carrilho foi Ministro da Cultura, temos vindo a piorar…
SR: Acho que há uma certa verdade na afirmação, o último ministro que tinha algum discernimento do que pretendia em termos de cultura terá sido, de facto, o Manual Maria Carrilho. Depois, não se vê sequer uma programação cultural, não se vê sequer um pensamento organizado sobre uma linha de cultura neste país, e é de facto um desastre por falta de implementações. E o que se passa com alguns municípios passa-se igualmente em termos de governo. Até em relação às delegações regionais, não sei qual é a estrutura, não a conheço, mas penso que uma delegação regional do Ministério da Cultura têm de fazer um trabalho muito maior do que responder a meia dúzia de ofícios, de ofertas e de pedidos de associações. Penso que devia ter uma atitude mais dinâmica, mais de procura, quer nas associações, quer nos municípios, quer nos grupos de trabalho, ao invés de estar à espera que as coisas lhe cheguem. Isto não pode soar a crítica porque não sei qual é o trabalho da delegação cultural, mas não é a financiar um grupo porque apresenta um projecto que agrada e não financiar outro porque apresenta um projecto que não agrada, que servimos a cultura, até porque em termos de apreciação, esta não pode assentar num juizo de gosto, o gosto não é conhecimento é sentimento e não há parâmetros para julgar o que é, e o que não é de apoiar, e devia haver. O governo ou repensa rapidamente a atitude a tomar face à cultura ou perdemo-nos em termos culturais. Já vamos atrás em tanta coisa na Europa, na cultura, parece-me que nos afundamos se não repensarmos urgentemente todo o trabalho de cultura que possa ser desenvolvido.
quinta-feira, setembro 03, 2009
Faro 3 Outubro-Escultura, Aracena 29 Outubro-Jornadas Fotograficas
quarta-feira, setembro 02, 2009
Palestina, pela Paz, por um Estado-Vidigueira 29 Agosto
terça-feira, agosto 04, 2009
sábado, agosto 01, 2009
Nucleo de Artes Silvestre Raposo
domingo, julho 05, 2009
Casa Museu João de Deus. Messines. Exposição e Mesa Redonda
Fotos de alguns momentos dos respectivos eventos.
terça-feira, abril 21, 2009
Exposição Vidigueira
domingo, abril 19, 2009
Festa das Cruzes em Vila Nova S. Bento
segunda-feira, abril 13, 2009
Festival de Fotografia em Aracena
quarta-feira, abril 01, 2009
da Jornada...
sexta-feira, março 20, 2009
do Carnaval...

>Dia 29 os Fotografos do grupo "Retrato" de Aracena irão fotografar os Campos, deste Aracena a Serpa onde iremos almoçar.
>Em Abril a Rota será percursos de Sevilha
quarta-feira, março 11, 2009
Actividades 2009

>Em Março 16 - Silvestre Raposo, membro do Grupo "Retrato" em Aracena-Espanha, irá estar naquela cidade, a fotografar e selecionar fotos, para Exposição do Grupo em Aracena.
>Em Abril 24 - Silvestre Raposo, irá expor novas obras de Pintura em Vidigueira, numa Exposição onde também a Escultura estará presente, com Alberto German e Leandro Sidoncha.
>Em Abril 25 - Silvestre Raposo participa no Festival Montanero de fotografia em Aracena
>Em Abril 30 - O Núcleo de Artes Silvestre Raposo, em Vila Nova de S. Bento, inaugura exposição de de Pintura de Alunas deste Núcleo. Na mesma ocasião será lançado novo número do Boletim do Núcleo, o Divulgar. Nas Festas será criada a tradicional Santa Cruz.
>Em Maio 8 - Silvestre Raposo, participa em Exposição de Artes Plásticas, na Casa Museu João de Deus em Messines
>Em Maio 15 - Silvestre Raposo participará como Moderador, no Debate sobre o tema " O processo criativo nas Artes Plásticas" com a presença de vários Artistas.
>Em Julho 18 - Silvestre Raposo, participa em Exposição de Fotografia, na Casa Museu João de Deus em Messines e a 30 no Debate da Jornada Fotográfica.
>Em Setembro 4 - Silvestre Raposo, participa em Debate Literário na Casa Museu João de Deus em Messines
>Em Setembro 25/28 - Silvestre Raposo, faz apresentação de livro em Pontevedra e visita Rianxo para trabalho fotografico
>Em Outubro 30 em Aracena iremos lembrar Miguel Hernandez numa leitura de poemas deste poeta.
>Em Outubro 30- Participa nas Jornadas Fotográficas de Aracena
Outras actividades ainda não confirmadas, serão entretanto incorpuradas.
Foto da autoria de Silvestre Raposo
Subscrever:
Mensagens (Atom)